Saúde

Implante coclear pela rede pública de saúde transforma vidas de pacientes com surdez severa

Desde 2023, 50 pacientes já realizaram o procedimento no hospital Delphina Aziz, que é referência na região Norte

Tiago Dantas, de 29 anos, nunca ouviu a voz do pai. Diagnosticado na infância com perda auditiva severa, ele faz parte dos cerca de 2,7 milhões de brasileiros com surdez profunda ou severa, conforme dados do IBGE. Agora, a realidade de Tiago está prestes a mudar graças ao implante coclear, um procedimento que oferece a possibilidade de ouvir novamente. No Amazonas, o Hospital Delphina Rinaldi Abdel Aziz, do Governo do Estado, é a única unidade da rede pública a realizar a cirurgia, que já beneficiou 50 pacientes desde sua implementação em março de 2023.

“O implante coclear é uma oportunidade única. É como se meu filho estivesse nascendo novamente, porque ele vai ouvir as primeiras palavras. Estamos muito ansiosos”, declarou o pai de Tiago, o biólogo José de Lima, durante o procedimento, realizado no último sábado (30/11). Tiago era um dos três pacientes que estavam fazendo a cirurgia na unidade naquele dia.

A secretária de Estado de Saúde (SES-AM), Nayara Maksoud, destaca a importância do serviço: “Além da saúde, é uma questão de cidadania. Proporcionar a esses pacientes a possibilidade de ouvir novamente e assim, transformar vidas”, disse.

A cirurgia consiste em um corte atrás da orelha para a implantação de uma endoprótese na região da cóclea (órgão responsável pela audição). O dispositivo capta os sons e os transforma em estímulos elétricos que restauram a capacidade auditiva.

“Hoje, o Hospital Delphina Aziz é referência em implante coclear na região Norte, e isso mostra como o Governo do Amazonas tem investido para atender a população que acessa o SUS”, destacou Nayara Maksoud.

Equipe Multidisciplinar

Os otorrinolaringologistas Luiz Avelino Júnior e Arthur Castilho, responsáveis pelos procedimentos feitos no Delphina Aziz, explicam que o implante coclear é considerado de alta complexidade, pois envolve a participação de uma equipe multidisciplinar com otorrinos, fonoaudiólogos, anestesistas e enfermeiros, além de assistentes sociais e psicólogos, desde o acompanhamento inicial até o pós-cirúrgico.

“O procedimento leva de uma a duas horas e é indicado para pacientes nos quais o uso do aparelho auditivo comum não consegue suprir a necessidade da pessoa. Após quatro semanas, realizamos a ativação do dispositivo e o paciente leva um tempo para se adaptar a essa nova realidade”, explicaram os médicos.

Realização de sonhos

Os três pacientes operados no último final de semana devem realizar a ativação até o início de 2025. Renee Barbosa é um deles. Aos 38 anos, ele perdeu a audição há 10 anos e sonha com o dia que vai voltar a ouvir.

“Ele consegue conversar por leitura labial, mas foi bem difícil esse processo para a gente. Graças a Deus ele fez a cirurgia e agora é só esperar a recuperação”, contou Cirlane Barbosa, esposa de Renee.

Segundo ela, o sonho do marido é ouvir o choro dos quatros sobrinhos. “Quando as crianças nasceram, ele já não conseguia ouvir. Então, ele sempre fala que é o sonho dele ouvir o choro dos sobrinhos. É uma realização tanto pra ele quanto pra mim”, afirmou ela.

Mãe da pequena Aylla, de 3 anos, a servidora pública Girlane Castro também se diz ansiosa com o resultado da cirurgia da filha. “Esse é o momento mais esperado da minha vida”. “Deus está na frente, botou essa equipe maravilhosa nas nossas vidas”, comentou.

FOTOS: Evandro Seixas/SES-AM